Augusto x Poe: Um paralelo possível, por Vladimir Neiva

Vladimir NeivaPosted by

Por Vladimir Neiva

A comparação entre Augusto dos Anjos, poeta brasileiro conhecido pela sua obra única, “Eu”, e Edgar Allan Poe, escritor americano do século XIX, permite estabelecer um paralelo interessante. Esses dois autores mergulham em temáticas obscuras, explorando aspectos da morte, da melancolia e do desespero humano, ainda que por caminhos distintos e em contextos diferentes.

Os Poetas

Augusto é um caso único na literatura brasileira. Seus poemas traziam uma linguagem inovadora, de viés meio simbolista, mas combinando um vocabulário científico e técnico com uma intensa carga emocional e existencial. Augusto beirava o místico: sua poesia refletia sobre a condição humana, a morte, a decomposição e a insignificância do ser diante do universo, empregando imagens cruas e uma visão pessimista da vida.

Já Edgar Allan Poe, famoso por seus contos de mistério e o poema “O Corvo”, por outro lado, é considerado até hoje um mestre do terror gótico, do mistério e do macabro. Ele criou narrativas clássicas que exploram o medo, a loucura e os estados psicológicos complexos. “Eureka”, livro pouco conhecido do autor, embora seja um tratado filosófico sobre o universo, reflete a obsessão de Poe pela morte, pelo infinito e pelo desconhecido, aproximando-se dos temas abordados por Augusto dos Anjos em termos de uma visão sombria sobre a natureza e o cosmos.

Comparações entre os autores

Especificamente, ao comparar “Eu” de Augusto dos Anjos com “Eureka” de Poe, é possível estabelecer um paralelo no que tange à fixação de ambos pela morte e as questões existenciais profundas. Enquanto “Eu” é um livro de poemas que mergulha na introspecção, na angústia existencial e na reflexão sobre a mortalidade com um certo olhar quase científico, “Eureka” se apresenta como um ensaio poético-filosófico que especula sobre a constituição do universo, abordando a morte e a eternidade.

A conexão mais profunda entre esses autores, portanto, reside em sua capacidade de transformar o horror e a melancolia em arte. Tanto Poe quanto Augusto usam a linguagem para sondar as profundezas da condição humana e do universo. O primeiro busca compreender em “Eureka” o cosmos e sua origem; já Augusto volta-se para o interior do ser humano, sua decadência física e espiritual. Ambos, no entanto, partilham uma fascinação pelo macabro e pelo misterioso, um desejo de explorar os limites da existência e um profundo senso de inquietação diante do desconhecido. Na condição de clássicos, portanto eternos, sempre é tempo para se redescobrir Augusto e Allan Poe.

Vladimir Neiva é empresário do setor editorial de João Pessoa-PB.