Gilberto Freyre e Sua Ideia De Nordeste

Vladimir NeivaPosted by

Em prestigiado evento na Academia Campinense de Letras, onde tive calorosa acolhida pelo presidente Thélio Farias, assisti a uma palestra sobre o legado de Gilberto Freyre, o sociólogo pernambucano, proferida pelo paraibano de Sapé Mário Hélio Gomes de Lima, professor, historiador e atual Superintendente de Periódicos e Projetos Especiais da CEPE (Companhia Editora de Pernambuco). Hélio é um estudioso da obra do “mestre de Apipucos”, como Gilberto também era conhecido pelos seus pares e discípulos. Após sua brilhante exposição de ideias, Mário – que tem três livros lançados em torno da obra gilbertiana – acabou por me motivar a escrever algumas linhas sobre a importância de Gilberto Freyre na formação de uma percepção e de um entendimento sobre a região Nordeste.

Antes dele, o Nordeste era frequentemente retratado de maneira simplista, como uma área marcada pelo atraso e pela pobreza. Mas Freyre veio e mostrou que o Nordeste era muito mais do que isso. Ele destacou a riqueza cultural e a diversidade social, que surgiram ao longo dos séculos, fruto das interações entre europeus, africanos e indígenas.

Sua obra mais famosa, Casa-Grande & Senzala, foi revolucionária ao explorar as complexas relações entre senhores e escravos, mostrando como a mestiçagem moldou a sociedade nordestina. Um dos conceitos mais importantes que Freyre introduziu foi o do “patriarcalismo tropical”. Ele explicou que a casa-grande, símbolo do poder patriarcal, era o centro da organização social no Nordeste, um lugar onde as hierarquias se estabeleciam, mas também onde aconteciam trocas culturais que deram origem a uma identidade regional única.

Outra sacada genial de Freyre foi enxergar a mestiçagem não como um problema, mas como uma riqueza cultural essencial. Ele foi um dos primeiros a celebrar essa mistura de raças, vendo nela um elemento para a formação da identidade brasileira, especialmente no Nordeste. A ideia de Freyre de uma “democracia racial” no Brasil, mesmo sendo hoje bastante criticada, por ser um tanto otimista demais, foi fundamental para abrir o debate sobre as relações raciais e desafiar as ideias de pureza racial que eram comuns na época.

Freyre também tinha um olhar especial para o cotidiano e a cultura material do Nordeste. Ele deu destaque a coisas que até então eram pouco valorizadas, como a comida, a arquitetura, os costumes e as festas populares. Para Freyre, esses detalhes eram expressões vitais da sociedade nordestina. Esse foco no cotidiano influenciou muitos outros estudiosos, que passaram a ver a cultura popular e a vida diária como peças-chave para entender o Brasil.

No fim das contas, o legado de Gilberto Freyre para os estudos sociológicos sobre o Nordeste é imenso. Ele nos ensinou a olhar para o Nordeste em toda a sua complexidade, como uma região onde várias tradições culturais se cruzam e a história se reflete nas relações sociais. Sua obra continua sendo uma referência histórica indispensável para quem quer entender não só a ideia de um Nordeste, mas de um Brasil como um todo.